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A CORTICEIRA


INTRO
O projeto decorre da intenção do IJMC GROUP, Lda em desenvolver um projeto, na sua propriedade para o edifício existente, de modo a acolher um espaço destinado a atividade comercial/restauração – um mercado – com a criação de 30 quiosques e uma área de restaurante que promova os produtos e a comunidade local, a cultura, educação culinária e alimentar saudável, numa zona privilegiada da cidade pelo seu sistema de vistas, pela sua localização e história.
“Sabe-se que 1865 o Barreiro possuía já uma fábrica de rolhas de cortiça, cuja anterior data de estabelecimento se desconhece, mas que poderá ter sido a de Victor Garrelon, sita na estrada do Rosário então troço embrionário da actual Rua Miguel Pais. Na carta de levantamento prévio do Plano hidrográfico do Porto de Lisboa podem já observar-se alguns estabelecimentos no referido troço, alguns já com aparentes aterros na frente ribeirinha, o que denota uma actividade comercial ou industrial em estreita relação com embarcadouros. As corticeiras vão começar a fixar-se em torno do núcleo urbano, sobretudo no espaço livre a Sul, arrumando-se junto ao corredor ocupado e reservado pela ferrovia, constituindo-se como o novo horizonte da vila.
Desde o início que a artéria corticeira por natureza foi a Rua Miguel Pais. O facto de ser uma via de comunicação principal, a sua confrontação com a frente ribeirinha, e o facto de no seu extremo Sul se encontrar o epicentro ferroviário, tornou-a apetecível também para ser local de habitação, por isso aqui a coexistência afirma-se numa mescla entre Indústria e habitações a Poente, e habitações e uma grande concentração de fabricos em quintais do lado Nascente”, segundo António Camarão, “A cortiça nas Ruas do Barreiro” - Espaço Memória da Câmara Municipal do Barreiro.
No artigo “A visibilidade da Cortiça Barreirense” de António Nunes Camarão menciona a família Barreira & Cª (Irmãos) como um dos produtores, fabricantes e exportadores de cortiça existentes à época no Barreiro, como é possível verificar nos patrocínios a Horácio F. Alves – A Vila do Barreiro – 1940, onde os anúncios mencionavam o Barreiro, como eram idealizados para a exportação, “apresentando-se até em mensagem bilingue visando o mercado externo, ou ostentando o branding, a imagem de marca pelo logotipo que poderia fazer diferenciar as cargas a exportar, permitindo a identificação rápida dos lotes da cortiça, fosse em prancha ou ensacada”.
Segundo o que consta o edifico a intervir tinha como função o processo final de tratamento da cortiça, a sua armazenagem e posterior exportação, através do rio tejo que atracavam no cais atracação de fragatas, coerente com a informação publicada na Portaria, Despachos, Éditos, Avisos e Declarações nº 183 de 6/8/1993 que delimita a demarcação do domínio público Marítimo do Prédio A (Travessa de 9 de Abril), o edifico em estudo.
Posto o isto, o projeto tem como conceito “dar vida à história”, uma narrativa desenvolvida no projeto que consiste na articulação entre duas temporalidades destintas, explorando a “historia” do objeto e, em simultâneo, introduzindo uma linguagem e atmosfera contemporâneas. Através da interpretação do objeto arquitetónico existente procuráramos preservar os elementos da nossa memória coletiva e local. A adição de elementos e o seu redesenho interior teve como princípio a criação de um consenso, diálogo entre as duas temporalidades. Este diálogo é concretizado na simplificação do edifício existente e na introdução pontual de elementos com linhas contemporâneas. Estas reorganização pontual e adição de volumes no seu interior, de forma subtil e minimalista, procuram não se sobrepor à linguagem existente, destacando a “história” existente e percecionada no local.
Pretende-se reabrir vãos, recuperar e respeitar o ritmo e a métrica destes na fachada, enquanto padrão organizador na ampliação proposta e trabalhar a luz, enquanto matéria-prima da arquitetura, reveladora da plasticidade escultórica dos espaços interiores e elemento unificador.
A abordagem procura através da arquitetura e da aplicação dos materiais afirmar, privilegiar e divulgar a importância da indústria corticeira na cidade.

DESENHOS

INFO
Localização: Rua Miguel Pais, Barreiro
Status: Ongoing
Ano: 2021
Cliente: IJMC GROUP, Lda
Área: 1657,55 m2
Levantamento Topográfico: Joaquim Vieira
Levantamento Arquitetónico: MA Arquitetos
Arquitetura: MA Arquitetos
Visualizacoes 3D: MA Arquitetos